Montagem de Pedro Granato é inspirado em caso real e o espectador acompanha tudo com fones de ouvido
O Núcleo de Criação do Pequeno Ato levanta discussão sobre assédio e violência sexual, com uma trama de mulheres que executam um plano de vingança. O novo espetáculo com direção de Pedro Granato, é inspirada nas experiências vividas pelas mulheres do núcleo e casos de violência real contra mulheres, Vingança Voyeur coloca o público infiltrado com fones de ouvido junto dos personagens em uma jornada itinerante.
A nova temporada estreia em 31 de maio, 1 e 2 de junho, às 17h, no bar Dr Linguiça (localizado na Rua Álvares Cabral, 463 – Centro), percorre pelas ruas da região central e termina no Centro Cultural Palace. A programação conta também com uma Oficina gratuita de Interpretação com o diretor Pedro Granato no dia 1 de junho, das 10h às 13h, no Centro Cultural Palace.
Com dramaturgia de Julia Terron e Victor Moretti, a história começa em um bar onde o público acompanha um grupo de mulheres que estão atrás do dono do estabelecimento que abusou sexualmente de uma delas. O que aconteceu é revelado aos poucos, enquanto as garotas e o público estão conectados por meio de um rádio, escutando conversas intimas através de fones de ouvido. Um a um, elas procuram seduzir os envolvidos no abuso e tirá-los de lá, com o público como cúmplice.
Com apoio da Prefeitura Municipal, o espetáculo une a pesquisa das peças anteriores do Pequeno Ato, como Caso Cabaré Privê e Fortes Batidas, ambas vencedoras do prêmio APCA, para usar os recursos de gamificação e imersão a fim de investigar novas formas de se relacionar com temas como machismo, sexualidade e a busca feminina por respostas à impunidade.
A decisão de começar a peça em um lugar público, como um bar, foi uma forma de aproximar o público da realidade das personagens e tornar a experiência ainda mais imersiva. A utilização de espaços não convencionais como cenário propõe uma experiência que fura bolhas de proteção do espectador e o coloca em posição de observação. Assim ele não só acompanha a peça como pode observar outras histórias que estão acontecendo naquele mesmo instante, potencializando o alerta da peça. “O espetáculo te torna voyeur de cenas de abuso, para tensionar como podemos a todo momento estar nessa posição passiva e nos convocando à ação”, relata o diretor.
Granato explica que o interesse pela espionagem surgiu durante o processo de pesquisa e concepção da peça, em 2022, e partiu de situações cotidianas. “Um tema muito próximo às atrizes eram cenas de violência sexual e assédio, todas tinham vivido situações difíceis. Construímos esse universo de compartilhar histórias em segredo e buscar essa ideia da gravação. Como é que você consegue gravar uma situação em que você está oprimida e sozinha, como corridas de Uber e festas de faculdade?”, conta.
A indignação com um momento político de falta de apoio institucional para vítimas de violência também foi um motor da construção da narrativa. “As meninas sentiram gatilho ao acompanhar casos como o do “estupro culposo” e situações em que as mulheres não só eram vítimas de violência, mas também eram novamente vítimas de uma violência institucional. O voyeurismo surgiu muito dessa sensação de impotência e solidão de quem está vivendo uma violência”, explica o diretor.
A dramaturga Julia Terron foi vítima de um estupro e ganhou apoio do parceiro de dramaturgia Victor Moretti para se abrir com o grupo e transformar o relato em arte. Para ela, escrever foi um processo de cura. “Eu passei o processo inteiro sendo muito cuidadosa porque a minha história é a história de uma menina que foi abusada, mas existem muitas e eu queria que esse texto representasse ao máximo todas elas. E hoje estou muito feliz com o resultado do texto porque eu sinto que ele me representa e representa também a vivência geral em relação ao abuso e em relação a viver como mulher nesse mundo”, diz.
A história foi montada também a partir de referências culturais do grupo e do público jovem, diz Granato: o filme “Bela Vingança”, que venceu o Oscar de melhor roteiro original em 2020, e músicas de Miley Cyrus, Shakira, Rosalía e Gloria Groove estão entre elas. “A gente foi trazendo essa estética urbana feminina empoderada e ao mesmo tempo a ação da vingança, a mulher não mais como vítima da violência, mas como quem está nas rédeas inclusive do jogo violento, invertendo um padrão”, conta o diretor.
Para Terron, é um convite para o expurgo das dores e dos traumas que carregamos, ainda que por meio da arte. “É colocar no texto as piores coisas que a gente sente sobre reagir. Reagir ao estupro é uma coisa muito difícil porque nada vai fazer com que uma mulher estuprada se sinta de fato vingada. É sobre conseguir expurgar essa dor, o texto é sobre um momento catártico de explosão em relação à incapacidade de ação sobre estupro. A peça é como se fosse um sonho”, finaliza.
Ficha Técnica:
Direção e concepcão: Pedro Granato
Dramaturgia: Julia Terron e Victor Moretti
Assistência de Direção: Carolina Romano
Atores: Ana Herman, Antonio Sedeh, Camila Johann, Julia Terron, Riggo Oliveira, Milena Pessoa, Michelle Braz, Lucival Almeida, Gabriela Maia, Tallis Oliveira, Rafa Carvalho e Rommaní Carvalho
Fotos: Gabriela Rocha
Assessoria de Imprensa: Adriana Balsanelli
Design gráfico: Carolina Romano
Técnico de Som: Felipe Aidar
Técnico de Luz: Ariel Rodrigues
Cenotécnicos: Diego Dac e Roberto Tomasim
Produção Executiva: Carolina Henriques e Julia Terron
Direção de Produção: Jessica Rodrigues
Produção e Realização: Pequeno Ato e Jessica Rodrigues Produções.
Serviço:
Espetáculo Vingança Voyeur
Data: 31 de maio, 1 e 2 de junho
Horário: às 17h
Ponto de início: Dr Linguiça (Rua Álvares Cabral, 463 – Centro)
Término: Centro Cultural Palace (Rua Álvares Cabral, 322 – Centro)
Duração: 90 minutos
Classificação: 16 anos
Ingressos gratuitos na bilheteria no Dr Linguiça
Oficina de Interpretação com Pedro Granato
Data e Horário: 1 de junho
Horário: das 10h às 13h
Local: Centro Cultural Palace
Endereço: Rua Álvares Cabral, 322 – Centro
Inscrições gratuitas: @pequenoato
Recomendações técnicas para Público:
– Possuir pacote 4G de internet.
– Levar fone de ouvido.
– Levar celular com bateria carregada.
– Ter o aplicativo Zoom instalado.